Contribuição à Conservação dos remanescentes arquitetônicos das Ruínas de São Miguel das Missões
Verônica Di Benedetti
Palavras-chave: arenitos, geociências,diagnóstico,arquitetura,Missões Jesuíticas
Resumo: Revisão dos ensaios tecnológicos realizados nas décadas de 1980 e 2005, nos arenitos constituintes das Ruínas Jesuíticas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul. Suas análises e interpretações como forma de contribuição para conservação dos remanescentes arquitetônicos.
Introdução
No ano de 2004, atendendo a solicitação da 12ª SR IPHAN-RS, foi elaborado um documento visando contribuir com a geração de dados para subsidiar a conservação dos arenitos das Ruínas de São Miguel das Missões. Durante visita foram levantados dados e coletadas amostras necessárias à realização de ensaios tecnológicos que juntamente,com laudos técnicos existentes, propiciaram uma melhor compreensão dos mecanismos de degradação atuantes no sistema e suas patologias.
Parte experimental
As amostras coletadas foram submetidas a ensaios de difratometria de raios-X a fim de verificar o grau de intemperismo presente no material. O material foi caracterizado por análise petrográfica e ensaios físicos como massa específica seca e saturada, desgaste por abrasão, porosidade, compressão diametral e simples, impacto TRETOR, capilaridade, permeabilidade, sanidade , gelividade e ciclagem. Ao todo quatro instituições envolvidas CIENTEC, FUNDATEC, CCET-UNISINOS E PPGeo UFRGS.
Resultados & discussão
A presença de argilominerias identificados como ilita e caulinita, identificados através da difratometria de raios-x informam a alteração por intemperismo químico presente. A ilita e a caulinita são decorrentes da alteração do plagioclásio e do feldspato em presença de água constante. Mecanismos de degradação e seus agentes patogênicos forma analisados e seus dados cruzados com os resultados dos ensaios. Intemperismo físico , químico e biológico são discutidos nesta análise.
Conclusões (não numere os tópicos);
A constatação da presença de argilominerais nas amostras evidenciam a alteração da rocha. Processos de intemperismo químico predominam no sistema rocha / meio ambiente/microclima. A presença de ilita e caulinita evidenciam a manutenção da umidade nas rochas. Alterações intempéricas evoluíram entre as duas fases de análise.
O patrimônio material e arqueológico sob o olhar dos benzedores de São Miguel das Missões (RS)
Juliani Brochardt, Eduardo Roberto Jordão Knack, Ronaldo Bernardino Colvero
Palavras-chave: Patrimônio Material. Patrimônio Arqueológico. São Miguel das Missões (RS). Benzedores
Resumo: O município de São Miguel das Missões (RS) é detentor do único Patrimônio Cultural da Humanidade no Sul do Brasil, as Ruínas da Redução de São Miguel Arcanjo, sendo esta localidade marcada pelos processos de patrimonialização decorrentes de uma política em prol do reconhecimento dos exemplares arquitetônicos que compuseram a identidade nacional brasileira desde o século XX. Nesse sentido, o respectivo artigo será direcionado ao olhar dos benzedores que lá exercem sua prática no que toca ao patrimônio material e arqueológico presente e consagrado no município referido. Para tanto, utilizou-se uma metodologia qualitativa e um método predominante, as entrevistas realizadas com uma parcela destes sujeitos que manifestam através de suas narrativas e memórias percepções sobre um espaço reutilizado e ressignificado por distintos grupos na atualidade.
Percebe-se ainda que o uso dos remanescentes arquitetônicos e arqueológicos é induzido por uma política patrimonial local que visa à consolidação de uma identidade local no que se refere ao destino turístico religioso e místico. A prática dos benzedores não está propriamente dita, relacionada ao discurso histórico oficial criado para aquele espaço, sendo os objetos materiais e arqueológicos ali existentes interpretados sob a ótica simbólica de seus praticantes, na maioria das vezes distante e independente da monumentalidade imposta ao longo do tempo naquela paisagem.
Aduz-se que o grupo de benzedores, os quais não são os construtores das ruínas hoje existentes, a reutilizem sob perspectivas que variam de intensidade conforme as motivações de cada um. Os valores atribuídos na atualidade são produções desenvolvidas pelos sujeitos, na perspectiva de dar sentido e uso ao espaço. Sentidos plurais que demonstram a diversidade da compreensão tida acerca dos vestígios materiais atualmente disponíveis ao grupo, os quais também são resultado do processo patrimonial introduzido na localidade. Representa assim, aos benzedores, mesmo que indiretamente em determinados casos, um suporte material ao ofício praticado o qual produz os mais variados discursos acerca do espaço e suas representações.
Referências Bibliográficas
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Contracapa Livraria.
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Mãos que preservam ruínas: Artífices Missioneiros e as práticas de preservação do patrimônio cultural em São Miguel das Missões (1982-2018)
Maria de Fátima Oliveira de Araújo
Palavras-chave: patrimônio cultural; memória; artífices missioneiros
Resumo: Desde 1938, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vem atuando de forma cada vez mais intensa na proteção e promoção de patrimônios culturais na região Missioneira. Iniciando suas primeiras atividades na região com a visita do arquiteto Lúcio Costa, os Remanescentes do Povo e Ruínas da Igreja de São Miguel foram reconhecido como Patrimônio Nacional Brasileiro, sendo inscritos no Livro do Tombo de Belas Artes pela atribuição de valor artístico neste mesmo ano. Desde então, os remanescentes vêm recebendo diversos reconhecimentos a nível nacional como internacional. Em 1983, as ruínas de São Miguel das Missões foram declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO em virtude de suas qualidades arquitetônicas. Posteriormente, para além dos elementos artísticos e arquitetônicos, os remanescentes das ruínas de São Miguel Arcanjo foram reconhecidos e registrados pelo IPHAN, em 2014, como bem imaterial Tava considerado Lugar de Referência para o Povo Guarani, valorizando assim as múltiplas dimensões desse lugar. Em 2015 foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Mercosul. [IPHAN, 2014]. Diante de tais reconhecimentos e da necessidade urgente de preservar um patrimônio em estado natural de ruínas, na década de 1980 é instalado um Escritório Técnico do Iphan para acompanhar in situ o desenvolvimento e a execução de projetos de conservação. Opta-se, na época, pela contratação de empresas terceirizadas para o desenvolvimento de algumas ações de preservação. É neste momento em que são contratados para as obras profissionais locais para a execução das atividades. Parte desses profissionais são capacitados e passam incorporar a equipe de servidores do Iphan formando uma equipe conhecida como “artífices missioneiros”, profissionais com conhecimentos e experiências únicas no que diz respeito à preservação dessas ruínas. Atualmente, o Escritório conta com o trabalho de sete remanescentes desses profissionais, a saber: Adelar (1986), João Carlos (1988), Luiz Carlos (1989), Nerci (1983), Nilson (1985), Paulo S. (1982), Valdemar (1989). Além destes, contamos com a colaboração de quatro jardineiros que também auxiliam em outras atividades de preservação, Paulo P. (2002), Adão (2002), Paulo D. (2007) e Sandro (2014). Conjuntamente com o trabalho desenvolvido por arquitetos, restauradores, arqueólogos e historiadores, os artífices missioneiros foram, e ainda são, peças fundamentais nos avanços empreendidos pelo campo da preservação nas ruínas de São Miguel Arcanjo, não apenas como executores dos diversos projetos de consolidação de paredes, manutenção, trabalhos de educação patrimonial, entre outros, mas como memória da atuação do IPHAN na região. Diante do exposto, a pesquisa em desenvolvimento tem por objetivo documentar a memória de trabalho dos artífices missioneiros no período entre 1982 e 2018 no sítio histórico e arqueológico de São Miguel Arcanjo em virtude da eminente aposentadoria desses profissionais e da falta de um planejamento para dar continuidade ao trabalho singular que por tanto tempo eles realizaram. Deve-se ressaltar que essa situação se torna mais emblemática quando se pensa também no cenário geral da instituição, que conta cada vez com menos funcionários, sem perspectivas para novas contratações que deem conta das especificidades necessárias aos diversos ofícios indispensáveis para uma efetiva preservação e promoção do patrimônio cultural. Procuramos compreender o impacto que tais situações podem apresentar para o futuro da preservação dessas ruínas.Com isso, o que se busca, num plano maior, é colaborar com a construção da memória institucional do IPHAN acerca dos mestres artífices. Em detrimento dos objetivos desta pesquisa estão sendo realizadas entrevistas iniciais coletivas com os artífices com o intuito de resgatar momentos importantes desta trajetória e propor ações futuras. Além disso, estão sendo levantadas todas as obras documentadas realizadas no período entre 1982 e 2018 para uma real noção das atividades desenvolvidas por esses profissionais. Por fim, o que se busca de forma geral é o reconhecimento ao trabalho dedicado, paciente e comprometido dos artífices missioneiros, na esperança de que seus conhecimentos possam ser valorizados e transmitidos a novos aprendizes
O patrimônio cindido: cultura material e imaterial, transdisciplinaridade e novos objetos de estudo no âmbito do patrimônio histórico jesuítico-guarani
Vânia Gondim
Palavras-Chave: Patrimônio; Patrimônio Jesuítico-Guarani; Cultura material; Cultura imaterial; Interdisciplinariedade.
Resumo: A presente pesquisa visa explorar as inter-relações que podem ser tecidas entre os diversos campos do saber científico e escolar, sobretudo, a partir de um objeto pontual, qual seja, as Ruínas de São Miguel das Missões. Esse espaço geográfico congrega elementos tanto da cultura material quanto imaterial, um lugar de memória, de evocação de um outro tempo, um lugar que traz consigo elementos que evocam a história, a geografia, a biologia, a geologia, a antropologia, a teologia, entre outros saberes que, quer queiramos, quer não, se situam em um campo limítrofe entre essas ciências. É o caso, por exemplo, de uma roda de carroça do século XVIII, desenterrada da via pública no processo de urbanização da cidade nos anos de 1970/1980, que traz consigo elementos relacionados à geologia e à composição do solo que permitiram que essa fosse conservada, que encontra assento na história e no processo de colonização da região. Assim como nas relações internacionais nessa região transfronteiriça, feitas no processo de colonização/ocupação pelos espanhóis no território das diversas etnias que viviam na região; e pelos portugueses e os luso-brasileiros após a guerra guaranítica. E envolve ainda um processo de longa duração que evidencia uma hibridização cultural e religiosa, que traz à tona uma combinação de culturas e etnias que, ao longo dos quase quatro séculos de povoamento da região, passaram por ali deixando suas marcas e que por lá assentaram raízes. Dito isto, na realização do presente estudo, optou-se pelo uso da etnografia e da realização de entrevistas pontuais com os principais agentes políticos, sociais e culturais da região, com o intuito de, a partir de elementos extraídos de suas construções discursivas, realizar uma reconstrução histórico-imagética do modo como determinados elementos existentes no chamado “Manancial Missioneiro” são capazes de evocar nos sujeitos da pesquisa diversos conhecimentos e saberes ligados ao campo da geologia, da história, da teologia, da antropologia etc. Resultados preliminares do estudo demonstram que há nesses objetos algo que a literatura antropológica denomina de agência. Além disso, essa agência transcende a rigidez do campo das ciências duras e dos objetos em si e os traz para o campo das ciências humanas através da noção de quase-objeto. Essa noção é tributária dos estudos de antropologia simétrica inaugurados por Bruno Latour (1994), qual seja, a noção de quase-objeto, redefinindo, assim, o próprio objeto de investigação das ciências sociais que, em vez de ser uma construção social, passa a ser percebido como um híbrido de natureza e cultura. Outras noções a seres usadas são as da interdisciplinaridade e complexidade defendidas por Edgar Morin (2000, p. 26-27), ou seja, “quanto maior é a complexidade da ordem ecossistêmica, mais esta é capaz de nutrir a sociedade com uma extrema riqueza e diversidade da ordem social, ou seja, a sua complexidade”.
Referências
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 1994.
MORIN, Edgar. O paradigma perdido: a natureza humana. Trad. Hermano Neves. Publicações Europa-América, LDA. Mira-Sintra. Portugal: 2000.
Trânsito de saberes e fazeres de origem guarani-missioneira: apontamentos a partir da mobilidade de um estucador de Melo, Uruguai, para Pelotas, Brasil
Pedro Luís Machado Sanches
Palavras-chave: Revestimentos Arquitetônicos; Arqueologia da arquitetura; Longue durée; Identidade artística; Mobilidade de artistas
Resumo: Introdução: Entre os séculos XVIII e XIX, no interior do Uruguai, os ofícios vinculados à ornamentação das construções contaram com o protagonismo da “mão de obra guarani-missioneira”. Alvenaria, carpintaria, e também a estucaria de teto e parietal atingiram seu “maior nível técnico” na obra quase anônima dos guarani oriundos das Missões Jesuítas, dispersos pela Banda Oriental entre o início do século XVIII e as três primeiras décadas do século XIX, no chamado “êxodo missioneiro”.
Na sociedade que se instituíra nas aglomerações urbanas de então (descrita como urbano-criolla por Oscar Padrón Favre), saberes e fazeres de origem jesuítico-guaraní passaram a pautar os processos de construção e também a formação de novos artífices.
O presente trabalho é uma tentativa de reconstituir essa apropriação por meio de um ponto de chegada possível: a obra do estucador João Máximo Rodrigues, nascido na província uruguaia de Melo em 1906 e emigrado para Pelotas, RS, Brasil aos 19 anos de idade.
Parte experimental:
Num esforço etno arqueológico e pericial, remanescentes de composições em estuque parietal atribuídos a Máximo Rodrigues em Pelotas foram levantados, e seus aspectos estilístico-formais analisados.
Tendo como informante uma filha do estucador, a museóloga Arlete Rodrigues Pereira, foi possível acrescentar dados biográficos e memórias da práxis do artífice.
Resultados & discussão:
O cotejo com o repertório guarani-missioneiro, por um lado, e com a produção local oitocentista e novecentista, por outro,possibilitam a aproximação da obra de Máximo Rodrigues à tópica guarani-missioneira operante na província em que o estucador aprendeu seu ofício, indicando características que a singularizam no cenário pelotense e permitem rastrear uma grande circulação de modos e motivos ornamentais.
Para tanto, se recorrerá às noções de “curta duração” e “longa duração” introduzidas por Fernand Braudel em 1958, e a pressupostos da mensiocronologia desenvolvida no âmbito da arqueologia da arquitetura por Mannoni, Parenti e Quirós Castillo, entre 1984 e 1998.
Conclusões:
Correspondendo a uma etapa preliminar da pesquisa, apresente comunicação exporá o conjunto da obra de Máximo Rodrigues que sobreviveu à crescente destruição dos revestimentos internos do casario histórico de Pelotas.
Em abordagem multidisciplinar, possibilitará discutir o topos e o movere considerando as prováveis preceptivas grarani-missioneiras, partindo de uma individualidade artística cujo estudo não tem precedentes conhecidos.
Agradecimentos:
Agradeço especialmente à museóloga Arlete Rodrigues Pereira, sem a qual esta pesquisa não seria possível. Ao Núcleo de Etnologia Ameríndia e ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Estuques, ambos do Instituto de Ciências Humanas da UFPel, agradecemos o contato que proporcionaram com os temas envolvidos nessa pesquisa.
Referências:
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KOSSOVITCH, L. Permanência e Renovação nas Artes. In: Discurso – Revista do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. Número 26, pp. 75-82, 1996.
PADRÓN FAVRE, O. Sangre Indígena em elUruguay. 3ª edición. Montevideo: Librosdel autor, 1994.
QUIRÓS CASTILLO, J. A. Indicadores cronológicos de ámbito local: cronotipología y mensiocronologíain CABALLERO, L.; ZOREDA, C.; VELASCO, E. (eds.) Arqueología de la Arquitetura. Burgos: Junta de Catilla y León, p. 176-187, 1996
Narrativas materiais: as Missões Jesuíticas e seu sistema solar patrimonial.
Artur Henrique Franco Barcelos
Palavras-chave: Missões Jesuíticas, Patrimônio, Cultura Material
Resumo: Desde a década de 40 do século XX as ruínas das antigas reduções jesuíticas localizadas no atual território brasileiro vem sendo objeto constante de ações oficiais de patrimonialização. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, criado em 1937, teve nas Missões Jesuíticas um de seus primeiros elementos de atenção especial para constituir o chamado Patrimônio Histórico Nacional. Estas ações resultaram no tombamento, proteção, valorização e conservação das ruínas de algumas das antigas reduções. Dentre estas, destaca-se São Miguel Arcanjo, que recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em 1983. Saindo do plano oficial e governamental, há muitas outras ações que resultam em um reforço da consolidação de uma narrativa histórica enaltecedora das Missões Jesuíticas. E estas ações se desdobram em processos de constituição de patrimônios que não estão centrados nas ruínas dos núcleos urbanos das antigas reduções. Em geral, são fruto de atividades de agentes não governamentais e possuem um alcance social mais efetivo em termos de pertencimento. Como exemplo, destaca-se o caso do Santuário e Romaria do Caaró, o Caminho das Missões e a Trilha dos Santos Mártires. Em cada um deles se encontram aqueles aspectos que Llorenç Prats conceitua como invenção e construção do patrimônio. Neste sentido, cabe uma reflexão sobre o papel da historiografia, acadêmica e diletante, e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, na construção de uma narrativa que aportou ideias-força que são apropriadas por agentes sociais na constituição de patrimônios. Pretende-se demonstrar como as ações oficiais e não oficiais giram em torno de um núcleo histórico e material, do qual emanam os signos e significados aplicados a lugares, artefatos e personagens. E de que forma esse núcleo resiste a análises críticas que proponham outras vertentes interpretativas do processo histórico relativo as Missões Jesuíticas.
As Missões Jesuíticas Guaranis do Brasil e Argentina Sob o Olhar Fotográfico
Bruno de Oliveira da Silva
Palavras-Chave: Missões; Patrimônio Cultural; Fotografia.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII os padres jesuítas da Ordem de Inácio de Loyola conquistaram a confiança dos índios na América do Sul como em uma sinfonia dramática, sofrendo grandes represálias no início, até atingirem o ápice com a construção de “Missões” ou “Reduções”, cidades formadas exclusivamente por índios Guaranis; juntas constituíram mais de 30 povoações. De acordo com Nascimento e Oliveira et al. (2008), em 1767 a Companhia de Jesus foi expulsa do Reino Espanhol e de seus domínios ultramarinos, levando ao êxodo na região platina, acompanhado do abandono e da destruição paulatina no decorrer do século XIX. A região das Missões hoje ocupa os territórios do Brasil, Argentina e Paraguai, e abriga um raro exemplo de ação integrada entre colonizadores - jesuítas espanhóis - e índios.
Uma experiência intensa que durou aproximadamente 200 anos, gerou manifestações culturais singulares, que embora fossem vinculadas a tradição europeia, também incorporaram manifestações nativas dos Guaranis. Estes lugares representam uma materialização utópica dos séculos XVII e XVIII, durante um processo de colonização profundamente violento e cruel com os habitantes autóctones e os escravos que foram trazidos a força da África. Por este motivo em 1983 a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO reconheceu as reduções de Santa María La Mayor, Nuestra Señora de Loreto, Santa Ana, San Ignacio Miní (Argentina) e São Miguel Arcanjo (Brasil) como Patrimônios Mundiais (UNESCO, 2018).
A imagem fotográfica transpassa todas as áreas do conhecimento como uma forma de registro histórico, se configurando conforme Dubois (2015, p. 45) como um “traço do real”, que pode servir em parâmetros de monitoramento para a conservação e preservação de patrimônios culturais e naturais, auxiliando também na leitura de paisagens. A fotografia de acordo com Persichetti (2008, p. 209), permite novas significações a cada “olhada”, possibilitando “entender representações da sociedade num certo ou determinado período sócio histórico”. A autora elucida ainda que, “decifrar o que se esconde por trás do visível ou do fotografável continua sendo um desafio para os cientistas que se documentam com expressões visuais da realidade [...]”. Para Brandão (2004), a fotografia não deve apenas informar, mas ilustrar e comunicar, e se possível provocar recordações e emocionar.
Este estudo se calcou na perspectiva imagética, objetivando analisar as Missões Jesuíticas Guaranis do Brasil e Argentina sob o olhar fotográfico, abarcando o patrimônio cultural e a paisagem natural circunvizinha. A respeito das deliberações metodológicas, primeiramente foi realizada pesquisa bibliográfica e documental sobre as Missões, patrimônio cultural e fotografia, posteriormente, um levantamento fotográfico in loconos 5 Patrimônios Mundiais dos dois países. Subsequentemente, optou-se por realizar a análise do material coletado pautada na iconografia, com interpretação iconológica, método de estudo de artes visuais proposto por Erwin Panofsky e adaptado para a imagem fotográfica pelo fotógrafo, pesquisador e historiador brasileiro Boris Kossoy (2014).
Concluiu-se que na atmosfera cultural da trajetória histórica das Missões Jesuíticas Guaranis, hoje ilustradas por resquícios arqueológicos em estado de ruína, predominam as formas que dão sentido às artes ali praticadas durante os séculos XVII e XVIII, esboçadas essencialmente na arquitetura com o estilo Barroco Missioneiro, que persistiu à ação do tempo e do homem (Costa, 1941). O olhar fotográfico auxilia na valorização histórica, contribuindo com sua plasticidade, gerando conteúdo estilístico e aprimorando o caráter expressivo que lhes pode ser conferido ao patrimônio cultural presente nestes territórios. Os conteúdos e mídias gerados pela fotografia podem auxiliar na conscientização a respeito do valor destes patrimônios, fomentando também à atividade turística para o desenvolvimento local.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Fotografar, documentar, dizer com a imagem. Cadernos de Antropologia e Imagem, n. 18, p. 27-53. 2004.
COSTA, Lúcio. A arquitetura dos Jesuítas no Brasil. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 5, p. 105-169, 1941.
DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico E Outros Ensaios. 14. ed. Campinas: Papirus, 2015. 362 p.
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. 5. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014. 184p.
NASCIMENTO, Anna Olívia do; OLIVEIRA, Maria Ivone de Avila (Org.). Bens e Riquezas das Missões. São Luiz Gonzaga: Martins Livreiro, 2008. 184 p.
PERSICHETTI, Simonetta. Documento do imaginário social. Discursos Fotográficos, Londrina, v. 7, n. 5, p. 207-210, jul./dez. 2008.
UNESCO. Jesuit Missions of the Guaranis: San Ignacio Mini, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto and Santa Maria Mayor (Argentina), RuinsofSao Miguel das Missoes (Brazil). Disponível em: <https://whc.unesco.org/en/list/275>. Acesso em: 10 jul 2018.
Verônica Di Benedetti
Palavras-chave: arenitos, geociências,diagnóstico,arquitetura,Missões Jesuíticas
Resumo: Revisão dos ensaios tecnológicos realizados nas décadas de 1980 e 2005, nos arenitos constituintes das Ruínas Jesuíticas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul. Suas análises e interpretações como forma de contribuição para conservação dos remanescentes arquitetônicos.
Introdução
No ano de 2004, atendendo a solicitação da 12ª SR IPHAN-RS, foi elaborado um documento visando contribuir com a geração de dados para subsidiar a conservação dos arenitos das Ruínas de São Miguel das Missões. Durante visita foram levantados dados e coletadas amostras necessárias à realização de ensaios tecnológicos que juntamente,com laudos técnicos existentes, propiciaram uma melhor compreensão dos mecanismos de degradação atuantes no sistema e suas patologias.
Parte experimental
As amostras coletadas foram submetidas a ensaios de difratometria de raios-X a fim de verificar o grau de intemperismo presente no material. O material foi caracterizado por análise petrográfica e ensaios físicos como massa específica seca e saturada, desgaste por abrasão, porosidade, compressão diametral e simples, impacto TRETOR, capilaridade, permeabilidade, sanidade , gelividade e ciclagem. Ao todo quatro instituições envolvidas CIENTEC, FUNDATEC, CCET-UNISINOS E PPGeo UFRGS.
Resultados & discussão
A presença de argilominerias identificados como ilita e caulinita, identificados através da difratometria de raios-x informam a alteração por intemperismo químico presente. A ilita e a caulinita são decorrentes da alteração do plagioclásio e do feldspato em presença de água constante. Mecanismos de degradação e seus agentes patogênicos forma analisados e seus dados cruzados com os resultados dos ensaios. Intemperismo físico , químico e biológico são discutidos nesta análise.
Conclusões (não numere os tópicos);
A constatação da presença de argilominerais nas amostras evidenciam a alteração da rocha. Processos de intemperismo químico predominam no sistema rocha / meio ambiente/microclima. A presença de ilita e caulinita evidenciam a manutenção da umidade nas rochas. Alterações intempéricas evoluíram entre as duas fases de análise.
O patrimônio material e arqueológico sob o olhar dos benzedores de São Miguel das Missões (RS)
Juliani Brochardt, Eduardo Roberto Jordão Knack, Ronaldo Bernardino Colvero
Palavras-chave: Patrimônio Material. Patrimônio Arqueológico. São Miguel das Missões (RS). Benzedores
Resumo: O município de São Miguel das Missões (RS) é detentor do único Patrimônio Cultural da Humanidade no Sul do Brasil, as Ruínas da Redução de São Miguel Arcanjo, sendo esta localidade marcada pelos processos de patrimonialização decorrentes de uma política em prol do reconhecimento dos exemplares arquitetônicos que compuseram a identidade nacional brasileira desde o século XX. Nesse sentido, o respectivo artigo será direcionado ao olhar dos benzedores que lá exercem sua prática no que toca ao patrimônio material e arqueológico presente e consagrado no município referido. Para tanto, utilizou-se uma metodologia qualitativa e um método predominante, as entrevistas realizadas com uma parcela destes sujeitos que manifestam através de suas narrativas e memórias percepções sobre um espaço reutilizado e ressignificado por distintos grupos na atualidade.
Percebe-se ainda que o uso dos remanescentes arquitetônicos e arqueológicos é induzido por uma política patrimonial local que visa à consolidação de uma identidade local no que se refere ao destino turístico religioso e místico. A prática dos benzedores não está propriamente dita, relacionada ao discurso histórico oficial criado para aquele espaço, sendo os objetos materiais e arqueológicos ali existentes interpretados sob a ótica simbólica de seus praticantes, na maioria das vezes distante e independente da monumentalidade imposta ao longo do tempo naquela paisagem.
Aduz-se que o grupo de benzedores, os quais não são os construtores das ruínas hoje existentes, a reutilizem sob perspectivas que variam de intensidade conforme as motivações de cada um. Os valores atribuídos na atualidade são produções desenvolvidas pelos sujeitos, na perspectiva de dar sentido e uso ao espaço. Sentidos plurais que demonstram a diversidade da compreensão tida acerca dos vestígios materiais atualmente disponíveis ao grupo, os quais também são resultado do processo patrimonial introduzido na localidade. Representa assim, aos benzedores, mesmo que indiretamente em determinados casos, um suporte material ao ofício praticado o qual produz os mais variados discursos acerca do espaço e suas representações.
Referências Bibliográficas
BAUER, Letícia. O Arquiteto e o Zelador: Patrimônio cultural, história e memória. São Miguel das Missões (1937-1950). Porto Alegre/RS: UFRGS, 2006. Dissertação de Mestrado.
BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Tradução de John Cunha Comerford. Apresentação de TomkeLask. Rio de Janeiro, 2000.
Contracapa Livraria.
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Mãos que preservam ruínas: Artífices Missioneiros e as práticas de preservação do patrimônio cultural em São Miguel das Missões (1982-2018)
Maria de Fátima Oliveira de Araújo
Palavras-chave: patrimônio cultural; memória; artífices missioneiros
Resumo: Desde 1938, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vem atuando de forma cada vez mais intensa na proteção e promoção de patrimônios culturais na região Missioneira. Iniciando suas primeiras atividades na região com a visita do arquiteto Lúcio Costa, os Remanescentes do Povo e Ruínas da Igreja de São Miguel foram reconhecido como Patrimônio Nacional Brasileiro, sendo inscritos no Livro do Tombo de Belas Artes pela atribuição de valor artístico neste mesmo ano. Desde então, os remanescentes vêm recebendo diversos reconhecimentos a nível nacional como internacional. Em 1983, as ruínas de São Miguel das Missões foram declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO em virtude de suas qualidades arquitetônicas. Posteriormente, para além dos elementos artísticos e arquitetônicos, os remanescentes das ruínas de São Miguel Arcanjo foram reconhecidos e registrados pelo IPHAN, em 2014, como bem imaterial Tava considerado Lugar de Referência para o Povo Guarani, valorizando assim as múltiplas dimensões desse lugar. Em 2015 foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Mercosul. [IPHAN, 2014]. Diante de tais reconhecimentos e da necessidade urgente de preservar um patrimônio em estado natural de ruínas, na década de 1980 é instalado um Escritório Técnico do Iphan para acompanhar in situ o desenvolvimento e a execução de projetos de conservação. Opta-se, na época, pela contratação de empresas terceirizadas para o desenvolvimento de algumas ações de preservação. É neste momento em que são contratados para as obras profissionais locais para a execução das atividades. Parte desses profissionais são capacitados e passam incorporar a equipe de servidores do Iphan formando uma equipe conhecida como “artífices missioneiros”, profissionais com conhecimentos e experiências únicas no que diz respeito à preservação dessas ruínas. Atualmente, o Escritório conta com o trabalho de sete remanescentes desses profissionais, a saber: Adelar (1986), João Carlos (1988), Luiz Carlos (1989), Nerci (1983), Nilson (1985), Paulo S. (1982), Valdemar (1989). Além destes, contamos com a colaboração de quatro jardineiros que também auxiliam em outras atividades de preservação, Paulo P. (2002), Adão (2002), Paulo D. (2007) e Sandro (2014). Conjuntamente com o trabalho desenvolvido por arquitetos, restauradores, arqueólogos e historiadores, os artífices missioneiros foram, e ainda são, peças fundamentais nos avanços empreendidos pelo campo da preservação nas ruínas de São Miguel Arcanjo, não apenas como executores dos diversos projetos de consolidação de paredes, manutenção, trabalhos de educação patrimonial, entre outros, mas como memória da atuação do IPHAN na região. Diante do exposto, a pesquisa em desenvolvimento tem por objetivo documentar a memória de trabalho dos artífices missioneiros no período entre 1982 e 2018 no sítio histórico e arqueológico de São Miguel Arcanjo em virtude da eminente aposentadoria desses profissionais e da falta de um planejamento para dar continuidade ao trabalho singular que por tanto tempo eles realizaram. Deve-se ressaltar que essa situação se torna mais emblemática quando se pensa também no cenário geral da instituição, que conta cada vez com menos funcionários, sem perspectivas para novas contratações que deem conta das especificidades necessárias aos diversos ofícios indispensáveis para uma efetiva preservação e promoção do patrimônio cultural. Procuramos compreender o impacto que tais situações podem apresentar para o futuro da preservação dessas ruínas.Com isso, o que se busca, num plano maior, é colaborar com a construção da memória institucional do IPHAN acerca dos mestres artífices. Em detrimento dos objetivos desta pesquisa estão sendo realizadas entrevistas iniciais coletivas com os artífices com o intuito de resgatar momentos importantes desta trajetória e propor ações futuras. Além disso, estão sendo levantadas todas as obras documentadas realizadas no período entre 1982 e 2018 para uma real noção das atividades desenvolvidas por esses profissionais. Por fim, o que se busca de forma geral é o reconhecimento ao trabalho dedicado, paciente e comprometido dos artífices missioneiros, na esperança de que seus conhecimentos possam ser valorizados e transmitidos a novos aprendizes
O patrimônio cindido: cultura material e imaterial, transdisciplinaridade e novos objetos de estudo no âmbito do patrimônio histórico jesuítico-guarani
Vânia Gondim
Palavras-Chave: Patrimônio; Patrimônio Jesuítico-Guarani; Cultura material; Cultura imaterial; Interdisciplinariedade.
Resumo: A presente pesquisa visa explorar as inter-relações que podem ser tecidas entre os diversos campos do saber científico e escolar, sobretudo, a partir de um objeto pontual, qual seja, as Ruínas de São Miguel das Missões. Esse espaço geográfico congrega elementos tanto da cultura material quanto imaterial, um lugar de memória, de evocação de um outro tempo, um lugar que traz consigo elementos que evocam a história, a geografia, a biologia, a geologia, a antropologia, a teologia, entre outros saberes que, quer queiramos, quer não, se situam em um campo limítrofe entre essas ciências. É o caso, por exemplo, de uma roda de carroça do século XVIII, desenterrada da via pública no processo de urbanização da cidade nos anos de 1970/1980, que traz consigo elementos relacionados à geologia e à composição do solo que permitiram que essa fosse conservada, que encontra assento na história e no processo de colonização da região. Assim como nas relações internacionais nessa região transfronteiriça, feitas no processo de colonização/ocupação pelos espanhóis no território das diversas etnias que viviam na região; e pelos portugueses e os luso-brasileiros após a guerra guaranítica. E envolve ainda um processo de longa duração que evidencia uma hibridização cultural e religiosa, que traz à tona uma combinação de culturas e etnias que, ao longo dos quase quatro séculos de povoamento da região, passaram por ali deixando suas marcas e que por lá assentaram raízes. Dito isto, na realização do presente estudo, optou-se pelo uso da etnografia e da realização de entrevistas pontuais com os principais agentes políticos, sociais e culturais da região, com o intuito de, a partir de elementos extraídos de suas construções discursivas, realizar uma reconstrução histórico-imagética do modo como determinados elementos existentes no chamado “Manancial Missioneiro” são capazes de evocar nos sujeitos da pesquisa diversos conhecimentos e saberes ligados ao campo da geologia, da história, da teologia, da antropologia etc. Resultados preliminares do estudo demonstram que há nesses objetos algo que a literatura antropológica denomina de agência. Além disso, essa agência transcende a rigidez do campo das ciências duras e dos objetos em si e os traz para o campo das ciências humanas através da noção de quase-objeto. Essa noção é tributária dos estudos de antropologia simétrica inaugurados por Bruno Latour (1994), qual seja, a noção de quase-objeto, redefinindo, assim, o próprio objeto de investigação das ciências sociais que, em vez de ser uma construção social, passa a ser percebido como um híbrido de natureza e cultura. Outras noções a seres usadas são as da interdisciplinaridade e complexidade defendidas por Edgar Morin (2000, p. 26-27), ou seja, “quanto maior é a complexidade da ordem ecossistêmica, mais esta é capaz de nutrir a sociedade com uma extrema riqueza e diversidade da ordem social, ou seja, a sua complexidade”.
Referências
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 1994.
MORIN, Edgar. O paradigma perdido: a natureza humana. Trad. Hermano Neves. Publicações Europa-América, LDA. Mira-Sintra. Portugal: 2000.
Trânsito de saberes e fazeres de origem guarani-missioneira: apontamentos a partir da mobilidade de um estucador de Melo, Uruguai, para Pelotas, Brasil
Pedro Luís Machado Sanches
Palavras-chave: Revestimentos Arquitetônicos; Arqueologia da arquitetura; Longue durée; Identidade artística; Mobilidade de artistas
Resumo: Introdução: Entre os séculos XVIII e XIX, no interior do Uruguai, os ofícios vinculados à ornamentação das construções contaram com o protagonismo da “mão de obra guarani-missioneira”. Alvenaria, carpintaria, e também a estucaria de teto e parietal atingiram seu “maior nível técnico” na obra quase anônima dos guarani oriundos das Missões Jesuítas, dispersos pela Banda Oriental entre o início do século XVIII e as três primeiras décadas do século XIX, no chamado “êxodo missioneiro”.
Na sociedade que se instituíra nas aglomerações urbanas de então (descrita como urbano-criolla por Oscar Padrón Favre), saberes e fazeres de origem jesuítico-guaraní passaram a pautar os processos de construção e também a formação de novos artífices.
O presente trabalho é uma tentativa de reconstituir essa apropriação por meio de um ponto de chegada possível: a obra do estucador João Máximo Rodrigues, nascido na província uruguaia de Melo em 1906 e emigrado para Pelotas, RS, Brasil aos 19 anos de idade.
Parte experimental:
Num esforço etno arqueológico e pericial, remanescentes de composições em estuque parietal atribuídos a Máximo Rodrigues em Pelotas foram levantados, e seus aspectos estilístico-formais analisados.
Tendo como informante uma filha do estucador, a museóloga Arlete Rodrigues Pereira, foi possível acrescentar dados biográficos e memórias da práxis do artífice.
Resultados & discussão:
O cotejo com o repertório guarani-missioneiro, por um lado, e com a produção local oitocentista e novecentista, por outro,possibilitam a aproximação da obra de Máximo Rodrigues à tópica guarani-missioneira operante na província em que o estucador aprendeu seu ofício, indicando características que a singularizam no cenário pelotense e permitem rastrear uma grande circulação de modos e motivos ornamentais.
Para tanto, se recorrerá às noções de “curta duração” e “longa duração” introduzidas por Fernand Braudel em 1958, e a pressupostos da mensiocronologia desenvolvida no âmbito da arqueologia da arquitetura por Mannoni, Parenti e Quirós Castillo, entre 1984 e 1998.
Conclusões:
Correspondendo a uma etapa preliminar da pesquisa, apresente comunicação exporá o conjunto da obra de Máximo Rodrigues que sobreviveu à crescente destruição dos revestimentos internos do casario histórico de Pelotas.
Em abordagem multidisciplinar, possibilitará discutir o topos e o movere considerando as prováveis preceptivas grarani-missioneiras, partindo de uma individualidade artística cujo estudo não tem precedentes conhecidos.
Agradecimentos:
Agradeço especialmente à museóloga Arlete Rodrigues Pereira, sem a qual esta pesquisa não seria possível. Ao Núcleo de Etnologia Ameríndia e ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Estuques, ambos do Instituto de Ciências Humanas da UFPel, agradecemos o contato que proporcionaram com os temas envolvidos nessa pesquisa.
Referências:
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PADRÓN FAVRE, O. Sangre Indígena em elUruguay. 3ª edición. Montevideo: Librosdel autor, 1994.
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Narrativas materiais: as Missões Jesuíticas e seu sistema solar patrimonial.
Artur Henrique Franco Barcelos
Palavras-chave: Missões Jesuíticas, Patrimônio, Cultura Material
Resumo: Desde a década de 40 do século XX as ruínas das antigas reduções jesuíticas localizadas no atual território brasileiro vem sendo objeto constante de ações oficiais de patrimonialização. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, criado em 1937, teve nas Missões Jesuíticas um de seus primeiros elementos de atenção especial para constituir o chamado Patrimônio Histórico Nacional. Estas ações resultaram no tombamento, proteção, valorização e conservação das ruínas de algumas das antigas reduções. Dentre estas, destaca-se São Miguel Arcanjo, que recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em 1983. Saindo do plano oficial e governamental, há muitas outras ações que resultam em um reforço da consolidação de uma narrativa histórica enaltecedora das Missões Jesuíticas. E estas ações se desdobram em processos de constituição de patrimônios que não estão centrados nas ruínas dos núcleos urbanos das antigas reduções. Em geral, são fruto de atividades de agentes não governamentais e possuem um alcance social mais efetivo em termos de pertencimento. Como exemplo, destaca-se o caso do Santuário e Romaria do Caaró, o Caminho das Missões e a Trilha dos Santos Mártires. Em cada um deles se encontram aqueles aspectos que Llorenç Prats conceitua como invenção e construção do patrimônio. Neste sentido, cabe uma reflexão sobre o papel da historiografia, acadêmica e diletante, e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, na construção de uma narrativa que aportou ideias-força que são apropriadas por agentes sociais na constituição de patrimônios. Pretende-se demonstrar como as ações oficiais e não oficiais giram em torno de um núcleo histórico e material, do qual emanam os signos e significados aplicados a lugares, artefatos e personagens. E de que forma esse núcleo resiste a análises críticas que proponham outras vertentes interpretativas do processo histórico relativo as Missões Jesuíticas.
As Missões Jesuíticas Guaranis do Brasil e Argentina Sob o Olhar Fotográfico
Bruno de Oliveira da Silva
Palavras-Chave: Missões; Patrimônio Cultural; Fotografia.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII os padres jesuítas da Ordem de Inácio de Loyola conquistaram a confiança dos índios na América do Sul como em uma sinfonia dramática, sofrendo grandes represálias no início, até atingirem o ápice com a construção de “Missões” ou “Reduções”, cidades formadas exclusivamente por índios Guaranis; juntas constituíram mais de 30 povoações. De acordo com Nascimento e Oliveira et al. (2008), em 1767 a Companhia de Jesus foi expulsa do Reino Espanhol e de seus domínios ultramarinos, levando ao êxodo na região platina, acompanhado do abandono e da destruição paulatina no decorrer do século XIX. A região das Missões hoje ocupa os territórios do Brasil, Argentina e Paraguai, e abriga um raro exemplo de ação integrada entre colonizadores - jesuítas espanhóis - e índios.
Uma experiência intensa que durou aproximadamente 200 anos, gerou manifestações culturais singulares, que embora fossem vinculadas a tradição europeia, também incorporaram manifestações nativas dos Guaranis. Estes lugares representam uma materialização utópica dos séculos XVII e XVIII, durante um processo de colonização profundamente violento e cruel com os habitantes autóctones e os escravos que foram trazidos a força da África. Por este motivo em 1983 a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO reconheceu as reduções de Santa María La Mayor, Nuestra Señora de Loreto, Santa Ana, San Ignacio Miní (Argentina) e São Miguel Arcanjo (Brasil) como Patrimônios Mundiais (UNESCO, 2018).
A imagem fotográfica transpassa todas as áreas do conhecimento como uma forma de registro histórico, se configurando conforme Dubois (2015, p. 45) como um “traço do real”, que pode servir em parâmetros de monitoramento para a conservação e preservação de patrimônios culturais e naturais, auxiliando também na leitura de paisagens. A fotografia de acordo com Persichetti (2008, p. 209), permite novas significações a cada “olhada”, possibilitando “entender representações da sociedade num certo ou determinado período sócio histórico”. A autora elucida ainda que, “decifrar o que se esconde por trás do visível ou do fotografável continua sendo um desafio para os cientistas que se documentam com expressões visuais da realidade [...]”. Para Brandão (2004), a fotografia não deve apenas informar, mas ilustrar e comunicar, e se possível provocar recordações e emocionar.
Este estudo se calcou na perspectiva imagética, objetivando analisar as Missões Jesuíticas Guaranis do Brasil e Argentina sob o olhar fotográfico, abarcando o patrimônio cultural e a paisagem natural circunvizinha. A respeito das deliberações metodológicas, primeiramente foi realizada pesquisa bibliográfica e documental sobre as Missões, patrimônio cultural e fotografia, posteriormente, um levantamento fotográfico in loconos 5 Patrimônios Mundiais dos dois países. Subsequentemente, optou-se por realizar a análise do material coletado pautada na iconografia, com interpretação iconológica, método de estudo de artes visuais proposto por Erwin Panofsky e adaptado para a imagem fotográfica pelo fotógrafo, pesquisador e historiador brasileiro Boris Kossoy (2014).
Concluiu-se que na atmosfera cultural da trajetória histórica das Missões Jesuíticas Guaranis, hoje ilustradas por resquícios arqueológicos em estado de ruína, predominam as formas que dão sentido às artes ali praticadas durante os séculos XVII e XVIII, esboçadas essencialmente na arquitetura com o estilo Barroco Missioneiro, que persistiu à ação do tempo e do homem (Costa, 1941). O olhar fotográfico auxilia na valorização histórica, contribuindo com sua plasticidade, gerando conteúdo estilístico e aprimorando o caráter expressivo que lhes pode ser conferido ao patrimônio cultural presente nestes territórios. Os conteúdos e mídias gerados pela fotografia podem auxiliar na conscientização a respeito do valor destes patrimônios, fomentando também à atividade turística para o desenvolvimento local.
Referências
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